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História da Dança Circular

Atualizado: 2 de dez. de 2019


A dança foi uma das primeiras formas de expressão do Homem, a primeira manifestação de comunicação através da linguagem gestual. Para o filósofo Sócrates (469-399 a.C.), a dança forma um cidadão completo, corpo, alma e espírito são beneficiados. Através dela conhecemos os conceitos, princípios, crenças e valores de uma determinada sociedade e neste aspecto a Dança Circular ocupa papel de destaque.


Pesquisadores já concluíram que a dança circular, ou de roda, é a mais antiga das artes e foi a matriz de todas as modalidades de danças conhecidas hoje. Acredita-se que foi uma das primeiras formas de expressão do homem primitivo que não sabendo falar, se movimentava batendo os pés e as mãos ritmicamente estabelecendo todo um código de sinais, gestos e expressões fisionômicas e corporais para se comunicar com sua tribo, para afastar inimigos, animais selvagens e se aquecer.


Em cavernas espalhadas ao redor do mundo, inclusive no Brasil, foram encontrados desenhos rupestres datados de 10000 a 8000 a.C, que representam cenas de pessoas em roda, dançando em volta de animais e vestidas com suas peles. Essas danças primitivas, em sua maioria, eram executadas pelos homens e estavam diretamente relacionadas à sobrevivência, pois vivendo em tribos isoladas e se alimentando de caça, pesca, vegetais e frutos colhidos da natureza, nossos ancestrais criavam rituais em forma de dança com o objetivo de impedir que eventos naturais prejudicassem suas atividades. As representações de dança primitiva executadas por mulheres, em geral estão relacionadas à fertilidade.


Todas as pesquisas mostram que o dançar em círculo e em grupo faz parte da história da humanidade - nascimento, chegada das chuvas, casamento, plantio, colheita, primavera, morte - refletindo a necessidade de comunhão, celebração e união entre as pessoas.


Apesar de sua origem longínqua, durante a Idade Média (Séc. V a XV aproximadamente), a espontaneidade dos movimentos corporais não agradou a Igreja, autoridade constituída, que proibiu sua execução, embora algumas danças em grupo fossem permitidas, normalmente procissões ou círculos em que os homens, separados das mulheres, realizavam solenes movimentos respeitosos no temor a Deus.


A interdição da Igreja atingiu, em especial, a dança de roda, conforme decreto do Papa Zacarias do ano 774, que dispunha "contra os movimentos indecentes da dança ou carola" (carola significa roda) ou o decreto do concílio de Avignon dizendo que “durante a vigília dos Santos não deve haver nas igrejas espetáculos de dança ou carolas”.

Entretanto, nas rodas de camponeses a tradição manteve-se forte e as danças continuaram livremente improvisadas ao som de instrumentos rústicos e cantos Gregorianos. Nesse período também a nobreza adotou as danças folclóricas praticadas pelos camponeses, transformando-as numa forma mais requintada de dança em roda para salões.


Com o fim da Idade Média, começou um intenso movimento de renovação em muitos âmbitos da vida social e cultural, chamado de Renascimento (séc. XV / XVI), trazendo muitas mudanças no campo das artes, cultura, política, dentre outras. Dentro desse contexto, a dança circular também sofreu profundas alterações, sendo incorporada pela nobreza como entretenimento e recreação nos saraus.


Apesar de ter sido adotada nos salões pelos nobres, a dança de roda sempre foi uma dança de caráter popular, inclusivo e socializador, que acolhe todos sem discriminação. Em todos os países ao redor do mundo são encontradas danças tradicionais que nasceram em manifestações espontâneas de confraternização, diversão, cura, agradecimento, entretanto tendem a ir desaparecendo uma vez que sua transmissão sempre foi oral.


Muitas dessas danças só chegaram até nós graças a alguns pesquisadores, particularmente Bernhard Wosien (1908 – 1986), nascido em Pasenheim, Prússia do Leste (hoje território polonês), bailarino, mestre de ballet, coreógrafo e pintor, que no começo dos anos 1960 foi atraído pelas danças folclóricas europeias, em especial as danças de roda. Esse interesse o levou a viajar pela Europa colecionando danças e músicas de aldeias remotas onde a dança ainda fazia parte da vida comunitária. Em suas viagens, percebendo que a dança circular tradicional estava começando a mudar e suas raízes sendo esquecidas, passou então a coletar e ensinar as mesmas e durante 10 anos (1959 a 1968) deu aulas em cursos de verão, em Klappholttal, Akademie am Meer na ilha de Sylt/Mar do Norte/Alemanha.


Em 1976, Peter Caddy, um dos fundadores de Findhorn, uma comunidade estabelecida na Escócia, convidou Wosien e sua filha Maria Gabriele para compartilhar seus conhecimentos das danças tradicionais do leste europeu. As danças coletivas de roda, naquela ocasião, encontraram em Findhorn um campo fértil para o seu desenvolvimento e expansão. Hoje a Comunidade trabalha mais com práticas de sustentabilidade e pouco se dedica à dança circular, salvo realização de um festival anual.


Ao coletar as danças Bernhard Wosien desenhava os dançarinos executando as mesmas, talvez como forma de lembrar e reproduzi-las. Mais tarde, uma de suas alunas Ana Barton, passou a transcrevê-las criando uma espécie de partitura das danças utilizando um método que ainda hoje é seguido. Ao conjunto de danças coletadas e próprias Wosien denominou “Dança Sagrada”, termo que posteriormente ele mesmo considerou inadequado devido à conotação religiosa que invocava.


Posteriormente, na Inglaterra, na medida em que se popularizou e que muitas pessoas passaram a ensinar danças de roda, o nome adotado foi "Dança Circular”, como hoje são mais conhecidas, embora ainda existam focalizadores que usam o termo “sagrada” na sua denominação.


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